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30 junho 2006

5 pensões antifascistas, fáchavôr!

Sr. Primeiro-ministro,

Eu li num jornal que o sr. diz que dá uma pensão a quem tenha lutado contra os fascistas. Ora fique desde já sabendo que há mais antifascistas na minha família que sarrafeiros na selecção da Holanda, de modos que vinha por estes meios pedir cinco pensões antifascistas, faz favor.

A primeira é para o meu avô Cesaltino. O meu avô Cesaltino tinha uma mercearia, mas a PIDE sabia que ele era comuna, vai daí andavam-lhe a gamar os tomates e diziam que se ele se chibasse punham-no no Tarrafal e violavam a minha avó.
Ora o meu avô sabia que nem os gajos da PIDE tinham tão mau gosto, mas a cena do Tarrafal era capaz de ser chata. Vai daí, fez o que só os grandes e influentes antifascistas conseguiam fazer: fugiu para França.
A minha avó é que ficou cá, porque enquanto tivesse aquele bigode e aquela carrada de pêlos no sovaco estava livre de perigo.

A segunda é para o meu pai, por causa que o meu pai esteve na Guiné, só que era um grandessíssimo antifascista, porque o Salazar dizia para ele matar os turras, mas o meu pai achava isso bué racista, e o que ele curtia era cerveja e gajas nuas.
De maneiras que para além de não matar um único africano, o meu pai ainda foi responsável pelo nascimento de para aí uns três.

A terceira é para a minha mãe, porque uma vez eu vim para a rua a Matemática e disse à minha mãe que a culpa era do prof, que ele não gostava da gente e era mas é um fascista, e a minha mãe disse “Ai é?”, e foi à escola e rebentou-lhe uma cadeira nos cornos e furou-lhe os pneus do carro e disse “Chumbas o meu filho, arrefinfo-te na boca, ó palhaço!”, e agora quando eles forem avaliar os profs vai-lhe dar nega que é para ele aprender.
De maneiras que a minha mãe também é antifascista.

A quarta é para o meu bisavô, porque ele passa a vida a dizer “No tempo do Salazar é que era, não havia drogados nem SIDA nem Pinto da Costa”, mas o médico diz que ele tem Alzheimer, de maneiras que o meu bisavô também é antifascista só que já não se lembra.

E a quinta é para mim, porque uma vez eu era pequenino e disse à minha mãe “Ó mãe, passa-me o sal” e diz-me ela “Não há sal, Quim Zé!” e digo eu “É pá, vá lá, este bacalhau não me sabe a nada” e diz ela “Queres Sal,azar!” e eu desmanchei-me a chorar, de maneiras que a palavra “Salazar” põe-me fulo, de maneiras que no meu interior também sou antifascista.

Sr. Zé Sócrates, ouvi dizer que as pensões eram de 600 euros, de maneiras que podes passar um cheque de 3000 e mandares em meu nome, porque:
- o meu avô fez fortuna a vender suquetes em Marselha;
- o meu pai tem terrores de guerra e quando vê uma carta diz "Não é meu! Juro que não é meu!"
- a minha mãe limpa escadas de Sol a Sol e aos fins-de-semana, de maneiras que não tem tempo para gastar o dinheiro;
- o meu bisavô não se lembra do que é um cheque, de maneiras que na dúvida entre cheques e papel higiénico, vai usar a pensão para limpar as hemerróidas;

Grato pela atenção,

Joaquim José