Quarto escuro com janelas aos quadradinhos
"- Então olha lá, já viste isto? Pôr os putos no quarto escuro vai ser crime! Tu pões o teu puto num quarto escuro?!
- EU?! Para quê? O Manelinho é um miúdo tão calminho... passa é a vida a cair das escadas, coitado.
Ele e a mãe."
Confesso que esta conversa entre um sogro e um genro me deixou curioso.
Quarto escuro dá crime?
Se sim, é crimezinho hollywoodesco em que os tipos vão presos no final, ou crime-crime, mesmo crime, crime à séria, eh pá mesmo crime, crime à portuguesa, tipo daqueles que prescrevem e tudo?E nesse caso, como garantir que temos um sistema justo e imparcial?
Só para se entender a complexidade da coisa, vou colocar-vos três inteligentíssimas e muito pertinentes questões ( a modéstia impede-me de classificá-las como "As melhores questões desde que Rui Unas perguntou a Cláudio Ramos se ele era roto"):
1. O pai fecha o filho num quarto com a luz acesa. Ás tantas o quadro estoira. Dá choldra? Será violência involuntária? E a EDP, é cúmplice?
2. A mãe fecha o filho num quarto com luz. O pai não se apercebe, passa à porta do quarto e apaga a luz, enquanto refere “Raios partam a mulher, esta casa parece a árvore de Natal!”. Quem é o culpado? O pai? A mãe? O pinheiro de plástico?
3. Um pai fecha o filho num quarto sem luz. Vai preso. O vizinho do lado fecha o filho num quarto com luz, e com um poster gigante do Paulo Bento. Não lhe acontece nada. É justo?!
A mim esta medida não afecta, porque quando fecho o meu filho no quarto tenho sempre o cuidado de ver se o quarto tem luz, janela aberta, água e comida. Especialmente quando vou de férias.
O que me aborrece mesmo neste assunto é sentir que se vai estrangular uma tradição secular e tão bem aceite na sociedade portuguesa: o jogo do quarto escuro. Esse marco da iniciação à vida erótico-sexual tão típico das festas de anos de outrora vai deixar de existir.
Pudera: vale a pena deixarmos os nossos filhos brincarem ao “quarto escuro”, e habilitarmo-nos a acabar no Linhó a brincar ao “apanha o sabonete”?
CGA
