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09 março 2006

EDITORIAL

BOM DIA, MÁ SORTE

Sim, o prof. Cavaco Silva tomou posse e Portugal finalmente mostrou que os helicópteros do Exército não servem só para ajudar nos fogos, servem também para patrulhar a Avenida da Liberdade.
Sim, o Benfica deu uma lição táctica aos camones e era hoje motivo de conversa em toda a Inglaterra, de Londres a Liverpool, de Manchester a Albufeira.
Sim, o Dia Internacional da Mulher e tal... Mas porquê perder o nosso tempo com assuntos medianos, se hoje se iniciaram as crónicas de Luísa Castel-Branco no Destak?

Para quem perdia tempo com Sudokus e notícias, agora sim há um espaço de verdadeira crónica como há muito não se via, mais precisamente desde sexta-feira, dia em que Pimpinha jardim (outro ícone do pensamento contemporâneo) aparece n’O Independente.
Intitula-se a crónica “Bom dia, e boa sorte" e disserta então LCB sobre o que o leitor faz no comboio “Aposto que aproveitou bem o tempo perdido nos transportes, talvez a fazer contas de cabeça ao aumento da taxa de juro do crédito à habitação e (…) os aumentos nos transportes, pão livros da escola dos miúdos, etc., etc.”
Aqui ela tocou na ferida. A primeira coisa em que qualquer pessoa pensa quando apanha um comboio às 7.30 da manhã é na taxa de juro do crédito à habitação. Aliás, e assumo-o sem qualquer preconceito, neste momento já não é o Tarot da Sr.ª D. Maria Helena Martins que me diz se o dia me vai correr bem, é a flutuação da taxa de juro do crédito habitação. Se os senhores da REFER soubessem aproveitar estas opiniões pertinentes, já os comboios tinham LCD’s a passar o Bloomberg.
E que dizer do aumento nos livros da escola dos miúdos, tão sistemático nesta altura do ano? É impressão minha, ou quem compra livros em Março anda numa escola com semestre par, normalmente designada por “Universidade”?
Já estou a imaginar o drama das crianças:
“- Pai, a versão em fotocópias do livro de “Teoria da Decisão na Política Internacional do Burkina Faso” aumentou 2 euros!”
“- Ah, essa Papelaria Fernandes, sempre a enganar os miúdos! Se ao menos o Estado mantivesse os programas usavas o do teu irmão!”
Continua a pertinente Luísa Castel-Branco:
“Se o caro leitor for do sexo masculino, até pode ser que esteja feliz, se por acaso o Benfica ganhou (…) Mas, para as leitoras, azar!”
Sempre soube que “Quem não é do Benfica não é bom chefe de família”, hoje descobri que “Quem não é do Benfica é gaja, e vice-versa”. Estamos sempre a aprender.
Confesso que fiquei destroçado, pois tenho grandes amigos cujas companheiras vibram com o Glorioso, e não é fácil pensar que eles são nossos amigos e confidentes, e descobrir que eles nem tiveram coragem de nos contar que eram gays.
Oh Luísa Castel-Branco, o que seria a verdadeira amizade sem si?
Eis senão quando surge o rol de palavras mais eloquente e simbólico do coração das mulheres:
“Nós mulheres (…) nem temos grande coisa que nos faça vibrar do pé para a mão (…) Pode sempre pensar no amor. Quer dizer, no das telenovelas porque, com a falta de dinheiro com que anda Portugal (…) não amor, sexo ou paixão que resista!”
Foi nesse exacto momento que percebi que não sou nada. Luísa Castel-Branco provou-me que eu e a maioria dos homens portugueses dependemos das taxa de juro, vivemos rodeado de homossexuais amigos da onça, e somos casados com prostitutas.
Oh Luísa Castel-Branco, o que seria o verdadeiro amor sem si?
Diz LCB no início desta crónica "(...) chegámos ao ponto de ser uma sorte ter trabalho, imagine-se só!" Depois de ler esta crónica, não é difícil imaginar.


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