CRONICA

Nossa Senhora de Xangai

O 13 de Maio é provavelmente a maior manifestação de fé cristã do Mundo inteiro. Ninguém, por mais ou menos crente que seja, põe a causa a aura e a manifestação de fé que por ali se vê.
Eu, cada vez que vejo o 13 de Maio, penso sempre: “Se aquilo fosse um clube punha o Benfica a um canto”. E eu tenho uma fé desgraçada no Glorioso.
O que eu mais admirei foi, como sempre, o adeus à Virgem. Pela emoção das pessoas, e porque já não via tantos lenços brancos desde que o Peseiro saiu do Sporting.
O problema é que o evento “13 de Maio” estava tão internacionalizado que já se temia que se deixe de associar Fátima ao nosso país. Vai daí, este ano houve santuários em obras e dificuldades de organizar as pessoas, só para dar um ar português à coisa.

Infelizmente, este ano há uma pedra no sapato da Igreja Católica, e de todo o português que tenha bom gosto: as chinesices chegaram ao Céu.
Apesar de ainda não se falar muito no assunto, palpita-me que este é um tema polémico que vai dividir a população portuguesa, principalmente a classe política: a esquerda achará bem, porque o Além não pode ser elitista e tem de deixar entrar os emigrantes; a direita não vai compreender como é que um povo comunista que come criancinhas ao pequeno-almoço chega ao Céu.

Pessoalmente, acho que a culpa desta situação também é da própria Igreja, por não patentear os seus deuses. Queixam-se agora de que tem de haver know-how para replicar as figuras cristãs, mas eu pergunto: custava muito ter inscrito nas imagens "Nossa Senhora de Fátima, copyright Igreja Católica", ou “Padre Cruz, ai de ti que copies, ó chinoca”?
Não o fizeram, e agora arriscam-se a ir comprar santos pelo número:
“Olhe, para mim pode ser um 63 - ‘Cristo à Pequim’ e um 120 - ‘Chop Suey de São Pedro’".
E, perante isto, pergunta o(a) leitor(a) com ansiedade:
“Mas porquê tanta falta de jeito?”
“Ninguém põe cobro a isto?!”
“O que é que vai ser hoje o jantar?”

Bom, em primeiro lugar, os chineses não têm experiência nenhuma em Cristianismo e figuras cristãs. Sim, os chineses já desenham figuras do Buda há uma pancadaria de anos. Mas relacionar Buda com Jesus Cristo é como dizer que a Simara é irmã gémea do Júlio Isidro.
Para se ter uma noção do quão "realistas" são as imitações, a bonecada é tão semelhante às reais figuras cristãs quanto o Laurent Robert é parecido com o “Flash”.
Basta tentar, por exemplo, falar de Santo António com um auxílio de um boneco chinês:
- Filho, este é Santo António. Santo António é normalmente associado a duas cidades distintas, uma portuguesa e uma estrangeira. Olhando para esta figura, consegues adivinhar quais são?
- Hum… Amadora e Kinshasa?

Além disso, o que realmente indignará a Igreja nisto tudo é, sabendo como estes produtos entram na UE pela porta do cavalo, ter a consciência de que há portugueses por este país fora a penitenciarem-se perante um Jesus Cristo que nem sequer cumpre os requisitos das normas comunitárias.

Reconheço, contudo, que alguns são desenhos fidedignos, e só percebemos que são asiáticos porque têm etiquetas como “Pai, Filho e Espírito Santo: a Santíssima Tríade”.
E o preço, pá, e o preço. Com preços daqueles, o portuga até se esquece o know-how. Ora bolas, os ciganos também não são produtores de cinema e não é por isso que a malta não lhes compra DVD's.

Ou seja, moral da história: os chineses estão muito à frente. E se a Igreja não se acautela ainda vai à falência, porque enquanto os cristãos vendem por 10€ a mesma imagem de Jesus na cruz há centenas de anos, os chineses aproveitam o Mundial e por 5€ vendem camisolas de futebol de Jesus Cristo.
E se dermos 7€ vêm autografadas.


CGA


PS: Já telefonei à minha mulher. Hoje o jantar vai ser bifinhos com cogumelos. Ainda bem. Fosse outra vez pescada e não havia Santo que me salvasse o matrimónio.